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Nos meses mais secos, uma antiga prática florestal utilizada para viabilizar plantios ou renovar pastagens pode se tornar um problema: as queimadas. Utilizado como técnica agropastoril, o fogo é uma ferramenta excelente para manejo do solo. Quando sai do controle e se transforma em incêndio, entretanto, é capaz de provocar graves prejuízos ambientais.

A utilização controlada do fogo faz parte do repertório de cuidados do solo das populações tradicionais. Usado pelos proprietários rurais na agropecuária, na renovação de pastagens, na remoção de material acumulado, no preparo do corte da cana-de-açúcar e várias outras situações, é uma opção economicamente viável e de baixo custo, de uso consolidado ao longo dos anos. Entretanto, oferecem o risco de propagação, tornando-se focos de incêndios florestais, os quais também podem ocorrer de forma provocada, seja intencional ou por negligência. Ainda, podem ter causas naturais, como a incidência de raios solares em folhas e galhos secos. Fato é que no período de estiagem - de junho a novembro - o fenômeno se torna mais comum e também mais perigoso.

Os três biomas brasileiros sofreram aumento de focos de incêndio em 2020. Na Mata Atlântica, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, a incidência cresceu 44% – foram 3.479 focos este ano contra 2.395 no mesmo período de 2019. Também importante, o alastramento do fogo pode ser responsável por diversos danos à saúde, inclusive nas áreas urbanas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 apontam que incêndios florestais causam 75% das emissões de gás carbônico na atmosfera do País, podendo levar ao aumento de doenças respiratórias como bronquite, asma, rinite e algumas formas de câncer.

Em regiões próximas à área de abrangência do Projeto Conexão Mata Atlântica, incêndios de grandes proporções ocuparam os noticiários e causaram grande preocupação quanto à manutenção da biodiversidade local. No Estado de São Paulo, em 2017, uma área de aproximadamente 586 hectares de propriedades no entorno da Estação Ecológica de Bananal foi reduzida à cinzas. Em 2019, foi a vez do estado do Rio de Janeiro: em uma área próxima à abrangência do Projeto, o Parque Estadual Serra da Concórdia, no município de Valença, dois grandes incêndios destruíram cerca de 40 hectares de floresta nativa.

Conexão Mata Atlântica: prevenção contra queimadas

 As ações de combate contra queimadas realizadas pelo Projeto Conexão Mata Atlântica são focadas, principalmente, na prevenção. As atividades educativas acontecem durante todo o ano, incorporadas à extensão rural que é característica da atuação dos técnicos nas propriedades rurais; no outono e no inverno, porém, são bastante intensificadas.

No estado do Rio de Janeiro, onde o fogo atingiu, em 2019, 1.650 hectares localizados nas 39 Unidades de Conservação, segundo dados da Gerência de Guarda-Parques (GGPAR), do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a coordenação do Projeto Conexão Mata Atlântica na região promoveu campanha de prevenção e combate às queimadas, que foi tema de uma reportagem da TV Rio Sul, a qual pode ser assistida aqui.

A Operação Corta-Fogo, formada com a participação de diferentes níveis de governo, empresas parceiras e comunidades, é a responsável por prevenir, controlar e monitorar incêndios no estado de São Paulo. O município de São Luiz do Paraitinga é o principal parceiro da Unidade de Conservação do Núcleo Santa Virgínia, do Parque Estadual Serra do Mar (PESM), nas ações imediatas de combate aos focos de incêndio no território e, também, a área que mais sofre risco de queimadas com a chegada do inverno -  a maioria, associadas à ocupação humana e ao uso desordenado do solo.

Marcelo Massaharu Araki, coordenador estadual do projeto Conexão Mata Atlântica em Minas Gerais, conta que o Programa de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Previncêndio) é responsável pelas ações de prevenção, controle e combate aos incêndios florestais na região. O Instituto Estadual de Florestas (IEF) oferece materiais de educação ambiental, os quais os técnicos do Projeto Conexão Mata Atlântica aproveitam para utilizar nas visitas às propriedades rurais, ocasião em que fornecem assessoria de extensão rural em produção e conservação do meio ambiente, esclarece.

"Nas visitas técnicas habituais, são fornecidas orientações de como prevenir incêndios, como fazer os aceiros, que são a área de capina ao redor da propriedade e que servem de proteção para o fogo não 'pular', a importância de não colocar fogo em pastagem para recuperação e outras", diz Marcelo, que aproveita para desfazer o mito de que o fogo renova as pastagens: "informamos ao produtor sobre o prejuízo, pois muitas vezes ele vê que o resultado é uma área verdinha e não sabe que, na realidade, ao colocar fogo ele perde muito, empobrece a microbiologia e o solo fica exposto". O coordenador do projeto esclarece que a melhor metodologia é manter a pastagem sempre baixa, diminuindo o volume de material comburente.