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O projeto Conexão Mata Atlântica, com apoio da Emater-Rio, promoveu no dia 13 de agosto, mais uma visita técnica sobre Sistemas Agroflorestais (SAF) e a produção de orgânicos, desta vez nas propriedades dos agricultores Joselmo Lourenço e Luiz Soares, no município de Italva. A visita técnica contou com a presença de cerca de 30 pessoas, entre produtores rurais, representantes de associações de orgânicos atuantes na região Noroeste (Aproenf, Aproban e Aprocen), do Sebrae RJ e outros parceiros institucionais locais, e debateu, ainda, os atuais desafios e oportunidades para o segmento da agroecologia e orgânicos.

Os produtores rurais Joselmo e Luiz possuem larga experiência na produção agroecológica de orgânicos e compartilharam seus conhecimentos sobre o conceito e vantagens do sistema, além de apresentarem algumas técnicas de manejo, estimulando outros agricultores a adotarem práticas produtivas mais sustentáveis. Joselmo começou a desenvolver o primeiro SAF em 2016, a partir de uma área com cultivo de coco e banana orgânicos, que enriqueceu com espécies frutíferas: banana, cacau, açaí juçara, além do palmito pupunha. “O ideal é plantar tudo junto ao mesmo tempo, aproveitando as produções de ciclo curto que beneficiam a cultura principal”, explica o agricultor.


Há um ano e meio, Joselmo deu início a um novo consórcio agroflorestal, no qual integrou mamão, maracujá, pinha, caju e abóbora, além de espécies florestais e frutíferas nativas da Mata Atlântica. O sistema foi implementado em um topo de morro degradado e já têm impactado positivamente nas características do solo e na paisagem local. “Já produzi abobora, maracujá e mamão suficiente para pagar o investimento que fiz com o plantio e o sistema de irrigação”, celebra o agricultor, que possui certificação orgânica há mais de dez anos e tem clientes importantes, como a marca de produtos orgânicos Korin.

Assim como Joselmo, o produtor Luiz Soares começou há um ano e meio a implementar o sistema agroflorestal em um hectare de sua propriedade a partir da plantação de coqueiros orgânicos, que enriqueceu com maracujá, banana, colo, tangerina, feijão, mamão, abóbora e cacau. “Há uns 20 anos eu plantava maracujá com uso de agrotóxicos, mas não deu certo aqui na região. Depois comecei com o coco orgânico e agora, além do coco, já estou produzindo abóbora e vendendo para as cestas orgânicas”.

Por conta do clima da região, muito seco e com pouca incidência de chuva, os sistemas agroflorestais implementados nas duas propriedades visitadas contam com irrigação, com recursos do programa Rio Rural. No entanto, o sistema agroflorestal usa muito menos água que os sistemas convencionais e mantém o solo mais úmido, como se fosse uma irrigação natural.

Os produtores não estão localizados nas microbacias atendidas pelo projeto na região, mas receberam apoio do projeto Conexão Mata Atlântica, que doou - em parceria com o viveiro do Inea - mudas de espécies nativas e frutíferas para a implementação do SAF.


O que é um Sistema Agroflorestal (SAF)?

A agrofloresta é um sistema integrado de produção de alimentos de qualidade, sem o uso de produtos agroquímicos, que contribui para a geração de renda e a preservação do solo e outros serviços ecossistêmicos, como a água, a biodiversidade e a manutenção do clima.

Existem diferentes arranjos agroflorestais, podendo integrar espécies nativas arbóreas ou madeireiras com frutíferas, hortaliças e leguminosas. Com a diversificação e a interação de espécies nativas e econômicas o próprio sistema fornece a nutrição necessária para o solo por meio dos resíduos gerados pela poda das diferentes espécies de plantas integradas na mesma plantação. A cobertura do solo com matéria orgânica contribui para a correta infiltração de luz solar e fertilização do solo.

Para recuperação e fertilização do solo, por exemplo, os produtores podem utilizar técnicas de adubação verde feita com plantio de espécies com essa função (leguminosas ou gramíneas) ou incrementando biomassa no sistema com a adição de compostos agroecológicos produzidos pela mistura do bagaço de coco, terra de galinheiro, mamona, gliricídia, farinha de osso e até mesmo ingredientes naturais que ajudam na liberação da matéria orgânica e aumenta a resistência da planta. 



O cultivo em manejo agroflorestal tende a gerar bons resultados para a recuperação em áreas com baixa capacidade de produção. A diversificação das culturas e o consórcio com espécies florestais vem se confirmando como estratégia importante de viabilidade para a produção agroecológica do Estado, em especial para os agricultores familiares. “A necessidade de diminuição de custos, conservação dos solos, eficiência do uso da água e de incremento de produtividade e renda vem estimulando pequenos, médios e grandes produtores a buscar os consórcios agroflorestais. O que precisamos é garantir cada vez mais incentivos como estes que estamos disponibilizando nos editais do projeto Conexão Mata Atlântica” – afirma Gilberto Pereira, coordenador executivo do projeto.

Distribuição

Um modelo de negócio que tem ganhado força Brasil afora são as vendas de cestas orgânicas. O empreendedor João Batista, do Sítio Bertoldo, de Coimbra, em Minas Gerais, que adotou esse modelo também esteve presente na visita técnica para contar um pouco da sua experiência. Além da produção do sítio, eles complementam as cestas com produtos fornecidos por uma rede de 15 produtores orgânicos (certificados) ou agroecológicos dos Estados do Rio e Minas.

Atualmente, o empreendimento fornece mais de 500 cestas por mês para as cidades de Itaperuna, Viçosa e Rio Branco, além da merenda escolar dos municípios. “A maior dificuldade aqui da região é a falta de uma produção de orgânicos em escala e a certificação, que é a garantia da qualidade e diferenciação do produto”, afirma João Batista, que também é técnico local do projeto Conexão Mata Atlântica.

As grandes redes de supermercado, como é o caso do Superbom, em Campos dos Goytacazes, e a marca Korin, especializada em produtos orgânicos, têm adquirido produtos orgânicos e agroflorestais de produtores rurais da região e se apresentam como oportunidades para a distribuição da produção. Contudo, a organização e regularização da produção para atendimento ao mercado consumidor são fundamentais. “O trabalho das associações de produtores agroecológicos é fundamental para a sustentabilidade do segmento. Estas associações fortalecem os canais de capacitação, de relacionamento institucional, auxiliam na assistência e também permitem mais oportunidades de comercialização. Há tempos, essas entidades vêm fortalecendo o contexto dos sistemas agroecológicos e florestais do Noroeste, mantendo ativa a difusão e produção com este tipo de manejo” – afirma Gilberto.

Embora a demanda de mercado por produtos orgânicos cresça em ritmo acelerado, a certificação, distribuição e valorização da cadeia de orgânicos ainda são alguns dos principais gargalos. “É preciso estimular a cooperação e organização dos produtores em associações para dar força ao seguimento. Estamos criando uma marca para identificar a produção orgânica local e melhorar a credibilidade do produto e a aceitação no mercado”, disse José Alcino Cosendey (Zequinha), do Sebrae na Região Noroeste. 


Potenciais agroflorestadores

A visita técnica despertou o interesse dos produtores que participaram da atividade. O produtor rural Luiz Almeida Carvalho, de Italva, é um dos contemplados pelo projeto Conexão Mata Atlântica, e quer aumentar a Hortafloresta que começou a implementar há quatro anos, por incentivo do Sebrae. “Hoje já vendo os produtos agroecológicos, pois ainda não são certificados, para as cestas do Sítio Bertoldos e para a merenda escolar. Pretendo dobrar a área de plantio pelo sistema agroflorestal”.

Outro produtor interessado em investir no SAF é o Sr. José de Almeida, do Sítio Xodó, em Varre-Sai, que esteve presente com a filha Márcia. O agricultor tem uma RPPN em sua propriedade e é um dos beneficiários do primeiro edital do projeto Conexão Mata Atlântica. “Já queríamos investir na implantação de uma agrofloresta, além de um sistema silvipastoril para produção de leite e laticínios. Só não sabíamos como começar. Agora sabemos e vamos fazer com o apoio do Conexão”.

Sebastião Gonzaga conta que ficou de fora do último edital por problemas na documentação, mas já se prepara para participar da próxima seleção, prevista para ser publicada no semestre de 2019. “Já plantei muito tomate com agrotóxico desde 1988, mas parei. Fiquei doente, com intoxicação no sangue e nunca mais quis saber de agrotóxico. Já comecei a plantar uma pequena agrofloresta, que pretendo ampliar e participar do próximo edital do projeto”.

Difusão da prática

O principal foco do Conexão Mata Atlântica nesta etapa do projeto é incentivar a adoção de práticas produtivas sustentáveis com o sistema agroflorestal e silvipastoril entre produtores com maior potencial. “Visitamos uma propriedade que está inserida em uma área muito degradada, mas que conseguiu reverter e recuperar o solo e melhorar a produtividade. Nosso papel é levar conhecimento, para que eles possam entender as práticas e aproveitar as oportunidades geradas pelo mercado”, afirma o coordenador executivo do projeto, Gilberto Pereira, que também esteve presente na atividade.

Participaram da visita técnica representantes locais da Emater, Iterj e Sebrae, parceiros do Conexão Mata Atlântica e apoiadores na disseminação de práticas produtivas mais sustentáveis. A visita contou ainda com a presença de representantes da Associação dos Produtores Orgânicos do Extremo Noroeste Fluminense (Aproenf), Associação de Produtores Orgânicos do Baixo Noroeste Fluminense (Aproban) e Associação de Agricultores Orgânicos do Centro Noroeste (Aprocen).

A atividade dá sequência ao programa de capacitação de produtores de Italva e região do Conexão Mata Atlântica, que tem com o objetivo estimular a adoção de práticas produtivas sustentáveis. No dia 25 de junho, foi realizada a primeira visita técnica da série sobre o Sistema Agroflorestal. A ação realizou um mutirão de manejo de hortafloresta nas propriedades dos produtores Luiz Almeida e Dalva da Silva. Outras atividades de capacitação nos sistema Agroflorestal e Silvipastoril (que integra árvores e pastagem), estão previstas para serem realizadas até o final do ano.

As atividades em Italva foram conduzidas pelos técnicos locais do projeto Antônio Cardoso e João Batista, com apoio da Emater.