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André Julião  |  Agência FAPESP – Como diminuir os conflitos entre humanos e mamíferos silvestres nas propriedades rurais? Qual é o papel da floresta na geração de água para a bacia hidrográfica e quais espécies florestais – nativas e cultivadas – podem ser mais interessantes para o ambiente e a economia? Quais são as práticas e os usos socioeconômicos e culturais do interior e do entorno das unidades de conservação?

Essas questões científicas, essenciais para a elaboração de políticas ambientais, devem ser respondidas por quatro projetos de pesquisa apoiados pela FAPESP no âmbito do convênio com o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), administrado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Os projetos foram apresentados durante reunião ocorrida na sede da Fundação no dia 8 de outubro, com a presença das outras partes signatárias do acordo, como Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo e Fundação Florestal.

As pesquisas fazem parte do “Componente 1” do projeto “Conexão Mata Atlântica”, que é gerido pelo MCTIC e busca estabelecer o pagamento por serviços ecossistêmicos nos municípios que compõem a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Projetos selecionados na chamada lançada pela FAPESP e pelo Fundo Global para o Meio Ambiente vão coletar dados para subsidiar políticas públicas de conservação e indicadores para pagamentos de serviços ecossistêmicos, como os de polinização e geração de água (foto: Felipe Maeda / Agência FAPESP)

O pagamento por serviços ambientais e ecossistêmicos consiste em gerar renda para produtores rurais que, ao realizarem conservação florestal e preservação de nascentes, por exemplo, contribuem para a polinização, geração de água, lazer e outros serviços providos pelo meio ambiente.

“A ideia deste encontro foi integrar os pesquisadores selecionados na primeira chamada com os órgãos ambientais dos três estados que são executores do projeto ‘Conexão Mata Atlântica’, acordo do qual a FAPESP é signatária desde 2016. A contrapartida da FAPESP é o financiamento de pesquisas científicas que auxiliem na geração de uma base de dados de carbono e biodiversidade e com sistemas de monitoramento e avaliação de serviços ecossistêmicos”, disse Bruna Cersózimo Arenque Musa, coordenadora de Programas Científicos da FAPESP e gestora do acordo FAPESP-GEF.

As pesquisas apoiadas visam solucionar problemas enfrentados na gestão de unidades de conservação. “É um momento muito interessante, pois vemos a ciência apoiando a tomada de decisão e as ações de manejo voltadas para a conservação da biodiversidade e a provisão de serviços ecossistêmicos”, disse Jean Paul Metzger, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e membro da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP.

Projetos

Coordenado por Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, o projeto “Padrões de diversidade biológica e coexistência humano-fauna: componentes que sustentam os serviços ecossistêmicos” estuda formas de diminuir os conflitos entre moradores de propriedades rurais e mamíferos silvestres, muitas vezes vistos como inimigos por atacarem animais domésticos ou plantações.

“Com métodos das ciências sociais, principalmente da psicologia, buscamos entender como as pessoas se relacionam com a fauna, o que sentem em relação a ela e o que sabem a respeito. A partir daí, elaboramos estratégias mais eficazes de mudança de comportamento para a conservação dessa fauna, que presta importantes serviços ecossistêmicos”, disse Silvio Marchini, pesquisador da Esalq-USP e membro do projeto, que representou Ferraz no evento.

Uma outra pesquisa apresentada busca compreender o papel da floresta na geração de água para a bacia hidrográfica. Ao mesmo tempo que é inegável o valor da floresta em pé, ainda persistem dúvidas acerca da influência das árvores em crescimento sobre o aporte de água superficial e subterrânea.

Evidências empíricas e resultados de pesquisas sugerem que a transpiração da floresta retira do solo parte da água que fluiria para os rios, produzindo vazão. No entanto, a maior parte desses resultados não foi obtida a partir do uso de sensores que medem diretamente a transpiração das plantas. Determinar a relação entre taxa de transpiração e crescimento da biomassa, ao nível de indivíduo, para espécies da Mata Atlântica é o objetivo do projeto coordenado por Laura de Simone Borma, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

“Algumas pesquisas dão conta de que a floresta pode, em um determinado período do seu crescimento, diminuir o volume de água no rio. Estudos mais recentes, porém, apontam que é possível atingir um nível ótimo de produtividade hídrica com um nível intermediário de cobertura florestal. Atualmente, existem poucos dados que permitam comprovar ou não a existência desse padrão. Com o auxílio de sensores que medem o uso de água de um indivíduo [árvore] ao longo do seu crescimento, associados a medidas de taxas de infiltração da água de chuva, a proposta é investigar o trade-off entre transpiração da mata nativa e infiltração”, disse Borma.

Por sua vez, Maria Teresa Vilela Nogueira Abdo, pesquisadora da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), busca compreender o crescimento e o rendimento de espécies arbóreas, a fim de entender quais podem ser mais interessantes para o cultivo pelos agricultores da região de Pindamonhangaba e todo o Vale do Paraíba, com a possibilidade de estender, no futuro, para a região de Pindorama, noroeste do estado. O projeto busca integrar a conservação da floresta com a sustentabilidade econômica.

Identificar o valor dado pela população aos serviços ecossistêmicos é o objetivo do Projeto ELOS, coordenado por Wilson Cabral de Sousa Júnior, do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA). Em conjunto com lideranças formais e não formais das comunidades, os pesquisadores buscarão construir indicadores socioeconômicos e culturais para serem levados em conta em futuros pagamentos por serviços ecossistêmicos. O escopo foi apresentado por Eliane Simões, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).