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Um projeto de restauração de áreas degradadas conduzido pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) no município de São Francisco do Glória, na Zona da Mata Mineira, e que faz parte do programa Conexão Mata Atlântica, tem sido considerado modelo de sucesso por conta dos bons resultados ambientais obtidos em um curto intervalo de tempo. A boa avaliação do projeto se deve à implantação, pelo IEF, do sistema chamado Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), que já traz excelentes resultados do ponto de vista do desenvolvimento sustentável de uma área de aproximadamente cinco hectares da Fazenda Santa Cruz, que concentra nascentes que contribuem diretamente para o abastecimento do município de cerca de 5 mil habitantes. O projeto tem apoio da Prefeitura Municipal de São Francisco do Glória e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG).


A partir do ILPF, o IEF teve condições de aplicar na prática os chamados sistemas agroflorestais, que consistem na definição de um consórcio de espécies arbóreas e arbustivas nativas, culturas agrícolas e até mesmo animais em um sistema de produção. Dessa forma, é possível recuperar uma área degradada possibilitando a geração de renda com introdução das culturas agrícolas, espécies florestais e animais. O trabalho, que ainda está em andamento, é conduzido pela equipe do Centro de Estudos e Desenvolvimento Florestal (Cedef) do IEF sediado em Viçosa, que faz parte da estrutura da Unidade Regional de Florestas e Biodiversidade (URFBio) Mata, de Ubá.


Segundo a equipe do Cedef, nesse caso específico da Fazenda Santa Cruz foi possível colocar em prática técnicas de uso e conservação de solo e água que estão contribuindo diretamente para a conversão de uma área que era considerada de baixa produtividade para uma área com alta produtividade. Ao mesmo tempo, essa conversão vem acompanhada do aumento do estoque de carbono a partir da adoção de tratos culturais (calagem, adubação) que proporcionam o aumento da produção de matéria seca (milho e da pastagem) e a introdução de espécies florestais no processo e da própria recuperação da área produtiva, objetivo principal do Conexão Mata Atlântica para eleger as propriedades aptas a receberem recursos de capacitação de produtores rurais, de técnicas de uso do solo e de insumos como mudas e materiais de cercamento.


Entre as ações desenvolvidas, que caracterizam o ILPF no projeto de São Francisco do Glória, se destacam o plantio de milho, feijão e eucalipto, além do mogno africano, sistema silvipastoril com eucalipto e plantio de mudas nativas, cada qual em áreas devidamente planejadas na propriedade. Além disso, a propriedade colocou em prática, sob supervisão do IEF, outras técnicas que favorecem a oferta de água, como a criação de barraginhas e terraços, que são estruturas que permitem a infiltração de água no solo.


Os benefícios já identificados são muitos, segundo a equipe do Cedef, como o desenvolvimento mais rápido de árvores, índice de 95% de pegamento das mudas plantadas, melhoria do solo, aumento de renda para as propriedades, aumento da água a partir do aparecimento de corpos hídricos que antes não eram visíveis e excelente produção agrícola. Na última semana foram colhidas, apenas na Fazenda Santa Cruz, 250 sacas de milho, a partir do plantio de 2,5 sacas de sementes feita em dezembro do ano passado.

PALAVRA DO PRODUTOR


Responsável pela Fazenda Santa Cruz, o produtor rural Jorge Augusto de Faria Filho, de 64 anos, é dono da propriedade desde 1999. Segundo ele, os 79 hectares adquiridos em três fases praticamente não tinham árvores quando ele assumiu a fazenda. O nível de degradação era muito alto, mas ele conta que nos últimos 21 anos vem se dedicando para mudar essa situação. “Podia contar nos dedos de uma mão quantas árvores tinha. Hoje, se você contar o que plantamos e deixamos na natureza eu considero cerca de 10 mil árvores”, diz ele.


Jorge considera que a parceria com o IEF para implementar um projeto modelo em sua propriedade foi o grande diferencial para deslanchar uma ideia que ele já possuía de recuperar a área. “Eu costumo dizer que casei com esse projeto. Exige uma dedicação total, de ir lá todos os dias, ver como está evoluindo, mas isso é muito importante porque você está plantando árvore, está infiltrando água no solo e aplicando as novas técnicas desenvolvidas por órgãos técnicos que têm esse conhecimento”, acrescenta.


Além de contribuir para o benefício ao meio ambiente, ele destaca as vantagens diretas para sua produção. Segundo ele, antes do projeto o foco da fazenda era o café e o gado de leite. Com as mudanças que estão sendo implementadas, saiu o gado de leite e está em curso uma transição para o gado de corte. Com todas as técnicas que estão sendo colocadas em prática, a expectativa é permitir que ele passe de 0,5 unidade por hectare para de três a quatro unidades bovinas por hectare, a partir do momento em que a pastagem estiver 100% formada.


Além disso, o milho já representou renda extra a partir do primeiro corte e ainda será feito um segundo plantio. Outra aposta é a exploração da madeira gerada pelo eucalipto e pelo mogno africano, que também vão gerar renda ao produtor rural. “Sem o apoio do IEF a coisa não teria deslanchado. Eu acho que o objetivo da propriedade modelo é exatamente quebrar o paradigma que existe na região de que não existe a necessidade de se trabalhar o meio ambiente”, completa.

IMPORTÂNCIA DO MODELO


Para o coordenador do Conexão Mata Atlântica em Minas Gerais, Marcelo Araki, esse projeto é considerado modelo porque é o retrato claro da possibilidade de convivência entre produção e florestas gerando desenvolvimento sustentável e recuperando o meio ambiente. “Isso demonstra que a parte produtiva agrícola não compete com a área ambiental, com o ecossistema que a gente tem que preservar. Hoje nós estamos trabalhando de uma forma que olha a propriedade rural como uma coisa só. Não adianta apenas trabalhar a parte ambiental focando somente na floresta nativa, temos que ter o objetivo de equilibrar as duas coisas, que é a floresta com a parte produtiva”, afirma ele.


Ainda segundo Marcelo, que faz parte da equipe da Diretoria de Conservação e Recuperação de Ecossistemas do IEF, no caso da Fazenda Santa Cruz, a área trabalhada no projeto tem sua maior parte com foco na produção justamente pelo fato de ter sido escolhida como modelo para as demais produtores rurais. Entre os outros projetos desenvolvidos pelo Conexão Mata Atlântica, a maioria está ligada à recomposição florestal a partir do replantio de áreas degradadas de Reserva Legal e de Proteção Permanente (APPs).

O diretor-geral do IEF, Antônio Malard, destaca que o desenvolvimento de políticas públicas e ações de extensão florestal que fomentem a sustentabilidade dos imóveis rurais, com práticas que conciliem a recuperação e conservação ambiental e a geração de emprego e renda no campo, é uma diretriz de atuação das  equipes técnicas do IEF. “O Projeto Conexão Mata Atlântica é exemplo dessa atuação e o seu sucesso reside no fato de que suas atividades agregam os pilares ambiental, social e econômico. Por este motivo, é modelo de referência para o fomento ambiental, o que permite replicar as práticas e experiências adotadas na região da Zona da Mata Mineira, com algumas adaptações, em respeito às particularidades das áreas, para as demais regiões do Estado", afirma.

DETALHES DO PROGRAMA


O Projeto Conexão Mata Atlântica - Projeto de Recuperação e Proteção dos Serviços do Clima e da Biodiversidade do Corredor Sudeste da Mata Atlântica Brasileira – tem como objetivo recuperar e preservar serviços ecossistêmicos associados à biodiversidade e ao clima em zonas prioritárias do corredor Sudeste da Mata Atlântica Brasileira. A área de atuação do projeto é a Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, que abrange parte dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.


Em Minas Gerais, o foco está voltado para o manejo florestal sustentável para trazer benefícios de captura e manutenção de estoques de carbono, proteção e incremento da biodiversidade e a capacitação de produtores rurais em técnicas de manejo sustentável da água e do solo nas bacias dos rios Pomba, Muriaé, Preto e Paraibuna, que são contribuintes do Rio Paraíba do Sul, e são usadas para o abastecimento urbano, mas que, no entanto, se encontram degradadas. O projeto ainda prevê adequação ambiental das propriedades rurais por meio da doação de material de cercamento e plantio e contratação de empresas para as instalações das cercas e plantio das mudas.


Até o momento, já existem projetos técnicos prontos para a recuperação de 1.011 hectares, por meio de 254 projetos relacionados a 131 propriedades rurais, contemplando a proteção de mais de 230 nascentes. É possível que uma propriedade rural desenvolva mais de um projeto, como é o caso da própria Fazenda Boa Vista, que inicialmente destinou 12 hectares de área para esse manejo e agora já está se preparando para um novo projeto em mais 15 hectares, bem como um novo plantio de milho com pastagem na área de ILPF. A previsão inicial do programa, que teve início da implantação em 2017, era se encerrar em 2021, mas houve prorrogação dos trabalhos até 2023, o que significa uma meta de 1,5 mil hectares de restauração até lá. Está aberto um edital para captar novos produtores rurais interessados em participar do Conexão Mata Atlântica, que pode ser acessado clicando no link ao final deste texto. Todas as informações necessárias para ter uma propriedade incluída no programa estão disponíveis neste mesmo link.


O Conexão Mata Atlântica é financiado com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (Global Environmental Facility – GEF), tendo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora e a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (FINATEC) como executor financeiro. Em Minas Gerais, as entidades responsáveis pela execução das ações do projeto Conexão Mata Atlântica são a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o Instituto Estadual de Florestas (IEF), a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado de Minas Gerais (Sedectes) e a Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG).

Produção: Guilherme Paranaiba - Ascom/Sisema